"À medida que o céu foi escurecendo e a chuva começou a cair no meu rosto, eu me dei conta que estava no cemitério, em frente a uma campa recentemente aberta, um caixão na minha frente. Mas o que eu fazia ali? Quem tinha morrido? O que me era a mim? Não estava ninguém no cemitério para além de mim, do coveiro e daquele morto.
Aos poucos e poucos, fui ao encontro da minha consciência. O meu irmão estava ali deitado, imóvel, gelado como neve, branco como cal.
Não conseguia acreditar que o André me tinha deixado e partido para outro mundo. Será que ele quis ir? Será que ele estará bem? Será que encontrou os pais? Ele tinha terminado de entrar na universidade, uma das melhores do país, no curso que ele tanto desejava. E um acidente de carro tirou-lhe a vida e eu fiquei. A vida é tão injusta.
As lágrimas que há tanto tempo desejavam escorrer, jorraram por completo pela minha face. A dor era imensa que ninguém podia comparar. Perdi tudo o que tinha no mundo. O meu irmão mais velho e único parente que tinha vivo morreu.
Quando cheguei a casa, sentia um vazio no estômago. Faltava algo ali, nesta pequena casa que agora vou ter que dividir com o ar que respiro e com a solidão.
Devia ter ido eu, e não aquela alma que fazia tudo por mim, por toda a gente."
*
Por vezes, apetece-nos escrever uma história em que podemos dar largas à nossa imaginação e fugir um pouco à realidade, e criar um mundo só nosso onde possamos sonhar sem sermos criticados, sem regras, sem impedimentos. Foi isso que quis fazer com este texto escrito por mim, mas é um pouco repleto de dor, sofrimento; em vez de ser um sonho, é um pesadelo.
Será por conviver com mortes, luto, saudade de pessoas amigas, familiares e vizinhos, que criei uma imagem um pouco dolorosa. Não é fácil perder os avós, aqueles que eram os meus melhores amigos, um irmão que sonhava em conhecer melhor, .... E o medo de perder o pai já com a sua idade avançada. Mas viver com este medo não me impede de viver o presente afincadamente, aproveitar todos os momentos, dizer-lhe constantemente que o amo, e dar-lhe o maior carinho.
Amo-te Pai.